Algumas porções dos segmentos intestinais são de difícil avaliação, sobretudo as porções menores e pontos específicos, como as junção íleo-ceco-cólica. Apesar de ter uma posição anatômica determinada, no dia a dia podemos observar algumas variações que remetem a condições abdominais dos nossos pacientes, como organomegalias, repleção do cólon, conformação anatômica do paciente, etc. Tanto em felinos, quanto nos caninos, a avaliação da JICC é passível de ser realizada pela ultrassonografia e pode ser usada como método de estudo para a triagem de futuros estudos, bem como para estadiamento e monitoramento de diagnósticos já estabelecidos.
Nos felinos, é de senso comum dos ultrassonografistas especialistas brasileiros que esta avaliação seja incluída como parte obrigatória do protocolo de varredura ultrassonográfica abdominal, apesar de não ser contemplada como de obrigatória avaliação e documentação no atual consenso americano e europeu.
nomenclatura e diferenças anatômicas
Uma diferença anatômica entre cães e gatos gera mudança na nomenclatura dessa topografia. Nos felinos, encontramos unanimidade em descrever a junção como junção íleo-ceco-cólica (JIIC), uma vez que os três segmentos convergem em comum, porém, com esfíncter apenas entre o íleo e o cólon, sendo a comunicação entre o ceco e o cólon permanentemente "aberta". Já nos cães, observamos uma junção íleo-cólica (JIC) e, uma junção ceco-cólica (JCC), ou seja, não havendo uma comunicação mútua entre os três segmentos. Apesar disto, muitos artigos de referência, inclusive recentes, ainda utilizam o termo junção íleo-ceco-cólica (JIIC) para ambas as espécies.
O entendimento desta diferença anatômica em nossos pacientes é importante pois esta região é foco de importantes infecções e imunologicamente ativa.
Outro ponto importante de observação é de que a porção terminal do íleo constantemente encontra-se sem o mesmo conteúdo luminal que os demais segmentos intestinais. Nesta porção, observamos uma camada muscular naturalmente mais espessa que os demais segmentos, devido a uma de suas funções: evitar o refluxo de conteúdo do cólon (fezes) para o intestino delgado.
manobra de varredura
Nos felinos, a JICC é muito mais fácil de ser localizada, e para sua avaliação, com o transdutor posicionado longidutinalmente ao paciente, varremos medialmente ao rim direito e, a JCC surge geralmente superficialmente a várias porções do jejuno.
Já para os cães, a manobra de varredura sugerida é seguir o cólon no sentido retrógrado (oral), do descendente, para o transverso, para o ascendente, até que a JICC apresente-se como uma reentrância no cólon.
avaliação ultrassonográfica
A avaliação ultrassonográfica do íleo deve ser realizada nos cortes longitudinal e transversal, sendo que o corte transversal apresenta-se como o ideal para a mensuração da parede dos felinos. Como o íleo naturalmente é observado sem conteúdo luminal importante, permanece constantemente fechado e as medidas de prega e entre-pregas é diferente e, não sendo passível de diferenciação no corte longitudinal. No sentido oral à JICC de alguns pacientes, podemos observar um "espessamento da camada mucosa" da porção dorsal da parede, associada a uma fina linha hiperecóica que pode dar à parede um aspecto multicamadas.
Na verdade, este espessamento corresponde às Placas de Payer, que geralmente tornam-se evidentes por estímulo antigênico e, estas placas situam-se na camada submucosa. Ou seja: a linha hiperecóica que vemos 'na mucosa' é na verdade a delimitação da camada mucosa com a submucosa e, pela acentuada hipoecogenicidade das placas de Payer, gera essa confusão na hora de interpretarmos a imagem.
Nos cães, Azoulay et al (2024) sugere que a JIC seja mensurada no corte longitudinal, e inclui o comprimento (L1), a espessura da parede ao nível da papila ileal (L2) e a espessura total da JIC (L3), em sentido ventrodorsal. Neste mesmo corte (longitudinal) é realizada a mensuração da parede do cólon e do íleo distal.
O ceco é um segmento curto e em fundo cego, com ligação para o cólon. Principalmente nos felinos, sua avaliação é crucial e é caracterizado como um segmento repleto de conteúdo de aspecto fecal, por vezes com pouco conteúdo gasoso, onde a parede apresenta diferente espessura em sua porção inicial e fúndica, resultado da presença de estruturas foliculares linfóides na porção fúndica, que tornam esta porção mais espessa e por vezes discretamente irregular.
tecidos adjacentes
Os tecidos moles adjacentes a essa região costumam apresentar discreta hiperecogenicidade com relação aos demais tecidos, e isso é observado com frequência. Além disso, os linfonodos ileo-cecais (ou ceco-cólicos) podem apresentar formatos variados, de arredondados, a ovais e forma de ferradura, geralmente hipoecóicos aos tecidos moles adjacentes.
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