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a tricotomia, a alopecia x e a alopecia pós tosa

O terror, o pânico, o pavor dos tutores de Spitz Alemão tem nome: a alopecia x! Essa raça tem sido a escolhida por vários tutores por uma série de características (como porte e comportamento, por exemplo), além claro, da pelagem característica! Essa pelagem é o xodó e faz com que os tutores adorem a raça, e qualquer sinal de que possa comprometer a integridade dessa pelagem é visto como uma ameaça quase que fatal!

A alopecia x é, sem dúvidas, o maior medo dos tutores das raças com pelagem lanada. Essas raças incluem os Spitz Alemão, Akita, Samoieda, Chow Chow e Husky Siberiano. Esse medo é agravado quando o paciente necessita de uma tricotomia, como é o caso do exame ultrassonográfico.

É muito comum que os tutores de cães dessas raças sejam resistentes à tricotomia por medo da alopecia x e isso apenas reflete a questão do desconhecimento: tanto da fisiologia do pelo quanto das patologias em si.



mas precisa mesmo tosar doutor?

A pergunta que praticamente todos os tutores de Spitz nos faz! E a resposta é sim! Entre os pelos dos animais fica represado ar, e esse ar impede que os feixes de ultrassom incidam adequadamente sobre a pele do paciente, comprometendo diretamente a formação da imagem ultrassonográfica. Ou seja: a ausência de tricotomia compromete de maneira importante o exame ultrassonográfico! Em alguns casos, a pelagem até mesmo impede a formação de imagem.


mas ele já tosou uma vez e teve alopecia x, demorou meses para curar!

Essa frase que também já ouvimos, assusta e de certa forma tende a intimidar quem não tem conhecimento sobre as patologias que ali podem estar envolvidas, mas você, como detentor do conhecimento na sala de ultrassonografia, terá que explicar algumas questões e esclarecer que não é possível que a tosa tenha causado a alopecia x, e que certamente não era alopecia x, já que a mesma não tem cura... e o que o paciente pode ter tido é uma alopecia pós tosa... ah, mas você não tem amplo conhecimento sobre o assunto? Então que tal darmos uma resumida e aprendermos a lidar com essa situação?


a fisiologia do pelo e a alopecia pós tosa

Para entender todo o mecanismo por trás da alopecia pós tosa, precisamos que esteja esclarecido que todo o pelo tem em seu clico de vida, três fases: anágena (de crescimento), catágena (fase de estacionada) e depois fase de queda, telógena, em que o pelo cai... para depois reiniciar o ciclo. No corpo do animal, a distribuição das fases não é igual, ou seja: enquanto os pelos do dorso estão em uma fase, os pelos dos mesmos estão em outra fase, da cabeça em outra, e assim por diante. Nos cães de pelo curto, esse ciclo dura em torno de 21 dias (você já reparou que os cães de pelo curto apresentam soltar mais pelo, justamente por isso, sempre tem pelos caindo por ter ciclo de vida relativamente curto).

Já o mesmo não acontece com os Spitz: neles, a fase estacionária pode demorar meses (até seis meses). Então pense comigo: se um pelo esta entrando na fase estacionária, e você tosa esse pelo, ele vai demorar até seis meses para passar para a próxima fase, que é a de... queda! Só então, depois disso, o ciclo se reinicia para a fase de crescimento.

Ou seja, a alopecia pós tosa na verdade foi apenas o asar do pelo ser retirado quando faltava muito ainda, em seu ciclo de vida, para entrar novamente em uma fase de crescimento. E pode acontecer em pacientes de qualquer raça.

Na verdade, na minha humilde opinião, não deveria nem ser chamada de alopecia pós tosa, já que você tosou o paciente e agora é só aguardar o ciclo se reiniciar.

Então, não houve uma cura da alopecia x, nem cura da alopecia pós tosa, pois a remissão acontece fisiologicamente quando o pelo entrar, novamente, na fase de crescimento.

Claro, existem tratamentos dermatológicos que podem contribuir para que o pelo cresça o mais rápido possível, mas calma que a natureza dá conta do recado!


e a alopecia x

Claro que se tem X no meio, é porquê o buraco é mais em baixo! Ela tem esse nome justamente por não ter uma fisiopatologia esclarecida. E por não ter uma causa e origem esclarecida, não tem cura!

A distribuição da alopecia x é bilateral, e simétrica, semelhante aos casos de dermatopatias de origem endócrina. E não é só ai que se assemelham: os achados histopatológicos da alopecia x e das dermatopatias secundárias ao hiperadrenocorticismo também são semelhantes!

Porém, não foi estabelecida uma relação entre a alopecia x e o hiperadrenocorticismo. A única causa a ser excluída é genética.

Dessa forma, não há como o nosso ato de tricotomizar o paciente desenvolver uma alopecia x! Ficou esclarecido pra você?


agora, sobre os tutores

Muitos tutores não tem conhecimento sobre essas condições do pelo, e eu trago essa culpa para a nossa classe, pois nas consultas clínicas, essas informações deveriam ser passadas de forma clara e objetiva.

Para esse post entrevistei meu amigo Jonathan Dobal, que mora no Rio de Janeiro e é tutor de Spitz! Lembra das características da raça Spitz que comentamos no começo? Então... perguntei o porquê de ter escolhido um Spitz e ele me disse que "já conhecia a raça por ser pet de um parente, e acho ideal para apartamento pelo tamanho, além do fato de não dar cheiro e por ser bem bonito".

O X ainda é filhote e está no esquema vacinal, mas Jonathan me contou que a veterinária já o alertou sobre as condições da pelagem do Spitz. As informações repassadas fazem algum sentido mas não estão totalmente corretas.

"Fui informado que a alopecia é uma doença hereditária e que pode pular gerações. Poe vir do pai ou da mãe e tem relação com a toso do pelo do cão."

Nesta frase podemos ver que o veterinário teve adequada conduta em , uma consulta preventiva, informar ao tutor sobre as doenças, mas a informação absorvida pelo tutor é controversa. A questão hereditária faz sentido, por ter uma possível causa genética por trás da alopecia X, mas é não tem relação com a tosa. A alopecia causada pela tosa é a alopecia pós tosa.

Também perguntei se ele foi informado de que alopecia x e alopecia pós tosa são condições diferentes. "Sim, fui informado pela Veterinária que inclusive não é a favor da tosa, somente a higiênica. Pois, caso dê alopecia nesses locais, não terá problema".


então como proceder com os tutores

Bom, não existe uma regra de bolo que se encaixe a todos os tutores, então a primeira coisa a fazer é mostrar que você sabe o que fala, que tem conhecimento sobre o assunto e esclarecer ao tutor a necessidade da tosa e o que são (incluindo suas diferenças) entre a alopecia x e a alopecia pós tosa.

Se o tutor aceitar a tosa, você ainda pode se prevenir, coletando a sua assinatura em um termo de ciência e esclarecimento, mostrando que foi explicado sobre a possibilidade da alopecia pós tosa (vai que depois de alguns meses ele aparece dizendo que você causou aquilo e que não o informou sobre as possibilidades).

Se o tutor não aceitar, aí vai de você: você pode arriscar fazer um exame com uma baixa qualidade técnica, e que pode comprometer o diagnóstico ou cancelar o procedimento.

O tutor, como cliente, tem o direito de escolha do local e profissional a conduzir o procedimento e esta livre para procurar um profissional que, arrisque comprometer a técnica do exame. Se houver o cancelamento do procedimento, sugiro que seja elaborado uma comunicação interna (seja por e-mail, livro ata) sobre o ocorrido, para que não hajam mal entendidos futuros.


agradecimentos e colaboração


  • Meus mais sinceros agradecimentos ao meu amigo Dr. Joaquim Elias Diogo (CRMV/MT 4391), especializado em Dermatologia Veterinária! Fomos colegas da mesma turma de residência na UFMT, ele na clínica médica e eu na imagem! Atualmente, o 'Joca' atende pacientes pets dermatológicos em Cuiabá (MT) e de cidades do interior norte do estado de Mato Grosso. Caso você não o conheça, acompanhe ele nas redes sociais, seu insta é @dr.joaquim_dermatovet e foi ele quem esclareceu todas as minhas dúvidas dermatológicas explicadas neste post


  • Também agradeço ao meu amigo Jonathan Dobal por ter colaborado com a entrevista, aliás cabe aqui um merchandising: Jonhatan é meu LifePlaneer, quem elaborou meu seguro em vida pela Prudential. Mesmo sendo CLT, acredito que estamos sujeitos a acidentes e intercorrências, então Jonathan bolou um seguro muito bom e que cabe no meu bolso. Se você ainda não tem um seguro em vida (que é diferente de seguro de vida), sugiro que faça o quanto antes, principalmente se você é autônomo! Jonathan é do Rio de Janeiro mas atende a todo o país! Para saber mais, seu instagram é @dobal_consulting


o conteúdo deste blog é destinado para médicos veterinários e estudantes de medicina veterinária

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