Um diagnóstico bastante comum na rotina ultrassonográfica de pequenos animais é a cistite. A inflamação de bexiga pode se apresentar ultrassonograficamente como diversos achados, isolados ou associados e, até mesmo em algumas situações, não gerar alterações ultrassonográficas. Muitas vezes (mas nem sempre) as cistites estão associadas à infecção do trato urinário, e algumas bactérias responsáveis pela infecção urinária podem ser produtoras de gás gerando, neste caso, a cistite enfisematosa.
achados ultrassonográficos
São achados ultrassonográficos comuns nas cistites a irregularidade da superfície interna da parede, a presença de pontos ecogênicos flutuantes ou sedimentados em seu conteúdo, o espessamento (focal ou difuso) da parede, presença de pontos hiperecóicos flutuantes ou sedimentados e, no caso da cistite enfisematosa, a presença de gás: conteúdo hiperecóico formador de reverberação.
Um detalhe importante é que o gás pode se apresentar livre no lúmen urovesical (que é o mais comum) ou em permeio à parede, como uma pneumatose.
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importante
Nestes casos, onde observamos gás no trato urinário, precisamos confirmar se não houve sondagem do paciente, pois através da sondagem pode haver passagem de gás ao trato urinário de maneira iatrogênica e, nestes casos, não é possível afirmar nem descartar que seja uma cistite enfisematosa.
Outro ponto importante é que assim como nos casos suspeitos de neoplasia, a cistocentese não é indicada na presença de gás na bexiga. Primeiro porquê o gás pode estar impedindo a adequada avaliação da bexiga e você não conseguir visibilizar adequadamente o que está puncionando e segundo, poque no caso de haver gás intramural, a infecção também é intramural e a integridade dessa parede pode ser questionável.
sobre o caso
Essa paciente Dacshund foi encaminhada para monitoramento da sua condição renal, por ser nefropata e logo no começo da varredura observamos esse gás na bexiga. Nestes casos, costumo pressionar a bexiga para ver o gás se mover para as partes que ficam mais superficiais e, isso não aconteceu, mostrando que o conteúdo era aderido ou em permeio à parede. Isso se tornou mais nítido ao observar que na parede dorsal da bexiga (que fica para baixo na imagem) também havia conteúdo hiperecóico imóvel, ou seja: não era sedimento, não se movia à manobra de balotamento.
Conversei com minha colega Dra. Leticia Pina se havia a possibilidade de complementar o diagnóstico com uma imagem radiográfica, que, confirmou a presença de gás em permeio à parede.
A paciente foi sondada para cultura e antibiograma, confirmando a infecção bacteriana, no caso, por Klebsiella pneumoniae.
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