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colecistite e gastrite agudas


Os pets e as refeições humanas

Mais do que os gatos, os cães, infelizmente, tem o habito de procurar alimentos humanos. Seja por seu comportamento mais próximo ou pelo incentivo do tutor em oferecer diversos alimentos (que fogem da dieta natural) para seus pets. E provavelmente por isso, a intoxicação alimentar em cães é relativamente mais observada do que nos gatos.

Intoxicação alimentar é um termo um tanto quanto genérico, que podemos utilizar em qualquer paciente intoxicado onde o meio de inoculação do agente tóxico tenha sido o alimentar. Essa intoxicação pode ter ocorrido pela ingestão de água ou alimento contaminado, seja por agentes microbianos (como bactérias, fungos) ou toxinas.

E aqui, uma informação importante: muitas substâncias que são de certa forma inertes para nós, seres humanos, podem ser considerados toxinas para os pets. Isso se dá pelo diferente metabolismo e formas como essas substâncias agem no organismo.


entendendo uma intoxicação

As substâncias ingeridas geram consequências diferentes e quem, geralmente sofre, é o fígado. E isso não é difícil de entender.

Algumas substâncias podem já ser lesivas ao trato gastrointestinal, promovendo processo inflamatório químico, pelo próprio contato com a parede do trato gastrointestinal. Outras, que num primeiro momento não causam isso, são absorvidas no intestino e pelo sistema portal levadas ao fígado para serem metabolizadas.

Se o fígado da espécie que ingeriu essa substância não for capaz de metabolizar a substância, ela gera uma hepatopatia aguda, pois se o hepatócito absorveu a substância e não a metabolizou, ela fica dentro do hepatócito, armazenada ou causando injúria ao próprio. Uma vez extrapolada a capacidade hepática de tentar armazenar (ou metabolizar) essa substância, ela cai no sistema venoso e circulação sistêmica, podendo chegar a qualquer órgão e, agravar a intoxicação. Algumas substâncias podem ser lesivas aos néfrons, outras ultrapassam a barreira hematoencefálica lesionando o sistema nervoso central, e por aí vai...


sobre o caso

Yorkshire vomitando

O paciente das nossas imagens é um Yorkshire Terrier jovem (05 anos) que começou a desenvolver dor abdominal e vômitos cerca de 06 horas após a ingestão de chocolate.

Ah, o chocolate. Uns o amam, outros o odeiam (mas a maioria como eu, amam!) mas, de toda forma, não devem estar ao alcance dos nossos pets.

Os chocolates possuem alta quantidade de metilxantina teobromina e cafeína, lesivas ao SNC e alteram o ciclo do cálcio celular, aumentando a contratilidade muscular esquelética e cardíaca, com consequente arritmia (viram o quão sério é?). Para piorar, há descritos efeitos cardiotóxicos dessas substâncias (sempre pode piorar mais, né?). Ah, não é só a barreira hematoencefálica que é ultrapassada por essas toxinas, a placentária também (vixi). Ou seja: uma intoxicação de uma cadela gestante pode resultar em intoxicação dos fetos (ou embriões) também.

Alimentos tóxicos para cães e gatos

A gastrite foi observada, caracterizada pelo discreto acúmulo fluido luminal (paciente estava sob jejum alimentar e hídrico de duas horas prévias ao exame) e pelo importante espessamento da parede gástrica. Em alguns pontos (transição de fundo para corpo) observamos também uma diferença na estratificação parietal: a mucosa parecia mais hiperecóica que o normal e as demais camadas eram pouco definidas, de uma maneira mais hipoecóica).

clique aqui para saber mais sobre avalição gástrica!

Observamos também uma colecistite, caracterizada pelo espessamento trilaminar da parede da vesícula biliar, com irregularidade de sua superfície interna. Além da moderada quantidade de pontos e estrias ecogênicas flutuantes e sedimentadas.


Achados ultrassonograficos de colecistite
conheça os parâmetros de avaliação das vias biliares clicando aqui

Outros achados foram hiperecogenicidade do mesentério em região epigástrica, dando aquela impressão de que uma pancreatite vem aí e uma congestão venosa hepática.

A pancreatite é uma consequência comum das intoxicações alimentares por chocolate, então cantamos a bola para o clínico iniciar o tratamento para essa grave condição.

Depois do exame, tivemos acesso a algumas informações da paciente: o hemograma estava normal, e as dosagens bioquímicas revelaram a fosfatase alcalina superior a 1000.


Cão internado sendo medicado
A gravidade do caso vai depender da toxina ingerida, quantidade, tamanho do animal e sensibilidade individual

comentários sobre o caso

Apesar de não achar o fígado hipoecóico para indicar uma hepatopatia aguda, eu não descarto que ela esteja ali (ou prestes a acontecer) porém, a congestão hepática não teria relação com ela em específico neste momento.

Em pacientes necropsiados com intoxicação alimentar por chocolate, foi observada congestão e acreditam que a principal causa seja a arritmia. Eu acredito nessa possibilidade pois ao realizar o doppler da veia hepática direita pude perceber que o paciente apresentada um fluxo anormal, compatível mesmo com arritmia.

Um diagnóstico diferencial para o achado da parede da vesícula biliar seria o edema de parede porém, todavia, entretanto seguidoug, o edema é um achado comum em processos inflamatórios agudos. Então, sim, a parede da vesícula biliar apresenta um edema, e a causa desse edema é a colecistite aguda.

Ou seja: algumas vezes você vai colocar na sua impressão diagnóstica somente edema de parede de vesícula biliar, bem comum em casos de hipoproteinemia, hipertensão portal, congestão cardiogênica, etc. Em outros casos, como neste, está claro que o edema foi causado pela colecistite aguda então, o edema é um achado e não um diagnóstico, por isso não o coloquei na impressão diagnóstica nem como diagnóstico diferencial.


literatura recomendada

Os relatos de intoxicação estão mais ligados à clínica do que a imaginologia, então encontrei um trabalho bem bacana sobre alimentos tóxicos e seus mecanismos de intoxicação, clique aqui para ler!

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