A cistite é a inflamação da bexiga e pode ser, desde subclínica (ou seja, sem sinais clínicos aparentes) até apresentar sintomatologia de consequências graves, sobretudo em felinos. Sobretudo, ao quadrado, em machos.
O processo inflamatório na bexiga promove a proteinúria e essa proteinúria pode formar pequenos grumos, suficientes para promover um processo obstrutivo uretral.
Essa inflamação pode ter diversas origens: infecciosa (bacteriana/viral), traumática, desencadeada por urólitos, por fatores ambientais, estresse... alguns fatores como diabetes, obesidade e estresse são predisponentes.
É comum observarmos cistites em pacientes que ingerem pouca água ou que não tem acesso fácil ao seu local preferido de micção (como jardins, caixinhas de areia, etc).
Já a DTUIF (Doença do Trato Urinário Inferior dos Felinos) na rotina clínica, é aquela condição comum dos gatinhos que chegam com algum sinal clínico de vias urinárias, geralmente estrangúria (mímica de dor ao urinar) e polaquiúria (aumento da frequência de micção).
porque falar da cistite?
É necessário devido ao seu fator de complicação: obstrução uretral. Uma "simples cistite" pode ser suficiente para formar grumos (chamados de plugs) e gerar obstrução uretral, parcial ou total.
Quando a uretra obstrui, o fluxo urinário é interrompido e a urina começa a se acumular na bexiga, e chega ao nosso exame em diferentes graus de distensão.
O que ocorre é que a própria cistite pode promover hematúria (sangramento na urina) mas uma vez obstruído, quando em níveis extremos de distensão, a parede urovesical promove uma hematúria muito mais acentuada, e temos então uma cistite hemorrágica.
Nestes casos em que é mais comum a formação de coágulos urovesicais.
As características do coágulo são relativamente variáveis. No caso em questão, foi descrito da seguinte maneira; Estrutura amorfa de 6,2cm, com limites bem definidos e irregulares, ecogênica, acentuadamente heterogênea, com presença de pontos hiperecóicos e cavitações anecóicas dispersas, aderido à porção dorsal da parede urovesical.
Algumas vezes eles são homogêneos, outras vezes são alongados ou ovalados. As vezes estão livres e não aderidos à parede.
Quando aderidos à parede, o principal diagnóstico diferencial é neoplasia urovesical. O histórico e as características ultrassonográficas (incluindo estudo Doppler) tanto da bexiga, das estruturas adjacentes (mesentério e linfonodos), ureteres e rins podem fazer a diferença no seu diagnóstico.
o caso em questão
O paciente da nossa imagem é um felino de um ano de idade, ou seja, pouco provável a chance de um processo neoplásico (apesar de não impossível). Mas alguns dias antes o paciente havia sido submetido a ultrassonografia (antes do procedimento de desobstrução) e esta estrutura não era evidente.
Neste paciente, houve a necessidade de remoção cirúrgica do coágulo devido as grandes dimensões. Coágulos pequenos costumam se dissolver, mas confesso que não sei dizer a partir de que tamanho é indicada a remoção cirúrgica e até qual tamanho o tratamente clínico pode ser indicado, será que alguém pode colaborar com essa informação?