Sem dúvidas a casuística mais comum das patologias do sistema reprodutor masculino na clínica de pequenos animais é o criptorquidismo. Durante a juventude, ocorre a migração dos testículos, da cavidade abdominal para o escroto mas algumas vezes, ocorrem falhas nesta migração. Pode ocorrer de maneira bilateral, mas 75% dos casos é unilateral e, o testículo direito tem duas vezes mais chances de ser acometido que o testículo esquerdo.
porquê acontece
A formação embrionária dos testículos é na cavidade abdominal, caudal aos rins (como na topografia ovariana). O que acontece é que a espermatogênese (ou seja, formação dos espermatozoides) necessita de uma temperatura mais baixa que a temperatura corporal e por isso, os testículos precisam estar externos. Essa migração da topografia de formação à topografia fisiológica, pode não ocorrer ou, ocorrer para um local inadequado.
locais mais comuns
Quando a migração não acontece, o testículo permanece na sua topografia de formação, ou seja: caudal aos rins. Essa localização é a mais rara, eu mesmo só observei essa condição uma única vez e faz muuito tempo.
Na cavidade abdominal, o testículo ectópico costuma estar na porção mais caudal do abdômen, e geralmente bem próximo à parede abdominal ventral, ou seja: superficial em relação as demais estruturas abdominais.
Outra topografia comum é a região subcutânea inguinal. Durante a migração, o testículo passa pelo canal inguinal e se aloja no espaço subcutâneo. Nessa topografia geralmente o testículo torna-se visível e palpável, sendo importante diferenciá-lo do linfonodo inguinal superficial.
As vezes, o testículo ectópico esta localizado no canal inguinal mas em uma porção mais mediana. Nestes casos, ele fica um pouco mais proximal em relação ao escroto e geralmente é móvel: durante a palpação você percebe ele indo e voltando do espaço subcutâneo para a cavidade abdominal.
como saber se realmente é o testículo
Ao estar no local onde não deveria estar, é comum ficarmos em dúvida: será que realmente é o testículo ectópico? A dúvida mais comum é confundirmos com linfonodos, e aqui vamos falar de algumas dicas:
Mesmo ectópico, se não neoplásico, é comum que o testículo permaneça com sua linha mediastinal definida.
O Doppler colorido auxilia a localizar o plexo pampiniforme: um enovelado de vasos que fica adjacente ao testículo.
e o que acontece?
Bom, uma vez alojado onde não deveria, alguns processos patológicos são esperados que aconteçam no testículo.
O primeiro, mais comum e menos grave é a atrofia testicular: as células germinativas responsáveis pela espermatogênese começam a se degenerar, por estarem em um ambiente inadequado e com o tempo tornam-se afuncionais. Nestes casos, o testículo torna-se hipoecóico à ecogenicidade habitual e reduzido de tamanho. O mediastino, costuma se manter bem definido e a superfície testicular permanece geralmente lisa.
Os testículos ectópicos tem 14 vezes mais chances de se tornarem neoplásicos do que os testículos tópicos e nestes casos, há uma ampla variedade de apresentações. As neoplasias testiculares podem ser focais (com aspecto nodular ou cavitário) em diferentes dimensões, ou difusas, alterando todo o parênquima. Tendem a alterar a normalidade da linha mediastinal (em alguns casos, até perder totalmente a definição da linha mediastinal) e tornam a superfície do testículo irregular.
Além disso, o testículo ectópico fica mais vulnerável a condições dinâmicas, que movem este testículo e facilitam a torção testicular. Quando o testículo gira em seu próprio eixo, o sangue arterial entra no testículo (pois as artérias tem uma parede mais firme que não se estenosa por completo na torção) mas não sai pela veia testicular (que se estenosou por completo por ter parede mais fina). Assim, o tecido fica ingurgitado, geralmente hipoecóico e as dimensões aumentam. É comum observarmos reatividade dos tecidos adjacentes e é uma condição de urgência, causadora de abdômen agudo.
documentação da imagem
Ao salvar a imagem (ou as imagens) do testículo ectópico, é necessário dar atenção a alguns fatores importantes:
Se certificar de salvar uma imagem longitudinal e uma transversal do testículo, sendo que a imagem contemple todo o seu parênquima e contornos;
Salvar uma imagem em que seja possível identificar as relações anatômicas do testículo, ou seja, quais estruturas estão próximas a ele no momento do exame.
Veja abaixo algumas imagens que exemplificam uma forma de salvar imagens demonstrando as relações anatômicas do testículo ectópico.
técnicas avançadas na avaliação dos testículos
Já existem estudos de modalidades avançadas na avaliação testicular, como o uso do Doppler, do contraste por microbolhas e a elastografia. Estes estudos são ensinados no curso de Ultrassonografia Gestacional e Técnicas Avançadas do Sistema Reprodutor do NAUS. As inscrições para a próxima turma já estão abertas. As aulas acontecem nos dias 02, 03 e 04 de Outubro, no NAUS, em São Paulo/SP. As aulas teóricas e práticas são comigo e com a professora Cássia Garcia e, as aulas on line são com a Professora Cibele Carvalho e mais um time de professores especialmente selecionados. Para maiores informações, [e só clicar na imagem abaixo.
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