Os infartos, de um modo geral, acontecem quando o fluxo arterial de um determinado tecido é interrompido. No abdômen de nossos pacientes, o infarto mais comum de ser observado é o renal. Geralmente já o observamos em fase crônica, com uma imagem clássica, hiperecóica, de contornos bem definidos e formato piramidal/em cunha, com a base localizada na superfície renal. Já no baço, os infartos não são tão comuns ou algumas vezes, subdiagnosticados, já que de um modo geral não geram sinais clínicos específicos.
introdução
Antes de falar do infarto esplênico propriamente dito, precisamos lembrar de como o baço é irrigado.
Sua irrigação é feita pela artéria esplênica, que é uma ramificação da artéria gastroesplênica e, a artéria gastroesplênica é uma das artérias originadas no tronco celíaco, sendo ele a primeira origem arterial da aorta abdominal.
Já o fluxo venoso do baço se dá, inicialmente, pelas veias lienais, que se confluem no hilo esplênico dando origem a veia esplênica e, após sua anastomose com a veia gástrica esquerda formam juntas a veia gastroesplênica, sendo uma das mais importantes veias tributárias da veia porta principal.
Saber essa questão da anatomia vascular também é importante pois alguns casos na literatura sobre infarto esplênico estavam relacionados a trombose venosa da veia esplênica, refletindo a importância em se investigar determinados grupos vasculares a fim de se direcionar a possível causa da trombose.
achados ultrassonográficos
modo b
Ao modo B, o infarto esplênico se apresenta como uma lesão focal, hipoecóica, de limites relativamente definidos e irregulares. A literatura cita que alterações na superfície adjacente é pouco comum porém, em todos os pacientes que atendi com infarto esplênico apresentavam abaulamento da superfície adjacente. Em alguns pacientes, são observadas estrias hiperecóicas entremeadas a esta lesão hipoecóica, formando um padrão rendilhado. Um achado comum é a esteatite adjacente à lesão afetada. A esteatite é o processo inflamatório dos tecidos adiposos de uma determinada região, caracterizada pela hiperecogenicidade e, às vezes, espessamento dos tecidos moles (mesentério) adjacentes à área do infarto esplênico. Efusão em quantidade laminar à discreta também é um achado comum nas esteatites.
achados doppler
A ausência de vascularização da área de infarto promove uma ausência de ecos Doppler, gerando no mapeamento colorido uma área sem evidenciação de vascularização. Em alguns casos, já foram relatados sinal Doppler em baixa intensidade.
No caso do paciente que atendi, realizei todos os ajustes para buscar sinal Doppler (PRF, ganho, etc.) e não houve nenhum sinal Doppler detectado, caracterizando a ausência de vascularização na lesão focal.
Se não há sinal Doppler, não é possível realizar estudo pelo Doppler pulsado. De qualquer forma, realizei estudo Doppler pulsado nas artérias adjacentes à lesão focal e, nessas artérias, observei achatamento da ascensão sistólica. Esse achatamento é observado em situações de estenose do vaso avaliado, pelas mais diversas causas.
diagnósticos diferenciais
Um dos importantes diagnósticos diferenciais seria a torção esplênica. Na torção esplênica, é comum observarmos esplenomegalia com ausência de sinal Doppler no parênquima esplênico. Porém, nesse caso, as alterações são mais difusas, ocorrendo no baço como um todo ou em grande parte de sua extensão. No caso de torção esplênica aguda, é comum a presença de abdômen agudo, podendo gerar além de dor abdominal uma importante hipotensão.
Neoplasia esplênicas também podem ser hipoecóicas, com limites pouco definidos e irregulares porém, dificilmente geram ausência de sinal Doppler ao mapeamento colorido.
bônus
Nossa amiga Médica Veterinária Adriana Meireles, do Rio Grande do Sul, tem um vídeo no YouTube sobre um caso de infarto esplênico diagnosticado pelo modo b, de uma conferida!
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