o ducto pancreático - aula post

Sem dúvidas, o pâncreas é um dos vilões da ultrassonografia de pequenos animais, e falo isso como experiência própria. Antigamente, acreditava-se que só o identificávamos quando alterado (o mesmo se falava das adrenais) e, não julgo essa realidade pois a resolução dos aparelhos de ultrassonografia melhoraram muito, tornando a avaliação deste órgão mais facilitada nos dias de hoje. Por isso, hoje vamos falar de uma estrutura muito confundida e pouco avaliada: o ducto pancreático.

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relembrando anatomia

Devemos lembrar que o pâncreas costuma ter dois ductos: o ducto pancreático principal e o ducto pancreático acessório.

Nos cães, o ducto pancreático principal desemboca na papila duodenal menor enquanto o ducto pancreático acessório desemboca na papila duodenal maior (onde também desemboca o ducto biliar comum).

Já nos gatos, como a maioria não possui papila duodenal menor, o ducto pancreático principal se funde ao ducto biliar comum, formando a ampola hepatopancreática, que desemboca na papila duodenal maior. Essa fusão de vias biliares e pancreáticas é uma das principais responsáveis pela tríade felina.

temos um post especial sobre tríade felina, clique aqui para conferir!

confusão

É muito, muito comum ultrassonografistas confundirem a veia pancreática com o ducto pancreático, sobretudo nos cães. Uma estrutura tubular, com parede hiperecóica e lúmen anecóico, no meio do pâncreas, só pode ser o ducto pancreático. Errado!

O ducto pancreático não é a única estrutura tubular que o pâncreas possui. Devemos lembrar que ele é um órgão irrigado, possui artéria e veia para nutrir e drenar seu parênquima

identificando as estruturas

Nos cães, essa estrutura tubular com algumas tortuosidades em seu trajeto trata-se da veia pancreática. É muito melhor visibilizada no lobo direito (o maior do cão) e leva o sangue do pâncreas até a veia porta, com uma anastomose (quase nunca visibilizada, da veia duodenal) tornando-se a veia pancreatoduodenal, uma das últimas tributárias da veia porta.

A artéria pancreática também pode ser visibilizada, com trajeto paralelo à veia pancreática, sobretudo na porção entre corpo e lobo direito, onde a veia á mais tortuosa.

Já o ducto pancreático é um pouco mais delgado, com trajeto mais retilíneo (quando eu o vejo, me lembra aquela sonda tomcat, de desobstruir uretra de gatos, sabe?). É fácil saber que é ele, pois enquanto a veia é relativamente tortuosa, o ducto pancreático é mais fino e reto.

Já nos gatos, como o lobo esquerdo é melhor visibilizado ao ultrassom, o ducto pancreático no lobo esquerdo também é melhor visibilizado e, ele é mais facilmente identificado do que a veia pancreática.

Pelo modo B, o que comumente acontece é que no cão, identificamos com facilidade a veia pancreática pelo lobo direito e no gato identificamos com facilidade o ducto pancreático pelo lobo esquerdo.

Ficou em dúvida? Acione o mapeamento colorido Doppler. As estruturas vasculares (veia e artéria pancreática) devem exibir cores ao mapeamento enquanto o ducto não.

mensurações

O ducto pancreático possui valores de referências já descritos na literatura, tanto para cães quanto para gatos. Como todas as medidas, em qualquer órgão, não deve ser interpretada de maneira isolada, e sim correlacionada com demais achados pancreáticos.

principais achados

O principal achado pancreático é a dilatação. Aqui, denominada ectasia do ducto pancreático, geralmente associada a pancreatopatia crônica, que também costuma deixar o ducto discretamente tortuoso.

A ectasia de ducto pancreático também pode estar associada a processos inflamatórios (agudos ou crônicos, de pâncreas ou duodeno) e obstrutivos (em papila duodenal ou no próprio ducto pancreático). É comum, sobretudo em felinos, essa ectasia ser observada concomitantemente com a hiperplasia nodular pancreática.

clique aqui para conferir um post sobre hiperplasia nodular pancreática

Como praticamente toda estrutura de transporte, pode ser acometido por litíase. A pancreatolitíase intraductal pode promover processo obstrutivo (parcial ou total), induzir ao processo inflamatório e pancreatite aguda e até mesmo gerar insuficiência pancreática exócrina, quando impede que o suco pancreático chegue ao duodeno para exercer suas funções no processo digestivo.

Uma complicação de pancreatite aguda, é o extravasamento dos fluidos para o interstício e como consequência, formam-se áreas que se assemelham a cistos. Esses pseudocistos são portanto, coleções reprimidas dos fluidos extravasados ou, dilatações císticas de ductos pancreáticos. Ultrassonograficamente, é pouco provável que consigamos diferenciar os pseudocistos de cistos verdadeiros.