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Schistosomus reflexus

Aqui no blog já falamos de algumas malformações fetais que podemos diagnosticas ainda no exame gestacional, como acrania, anasarca, hidrocefalia, etc.

Recentemente, tive a oportunidade de acompanhar pela primeira vez uma paciente gestante em que um dos fetos apresentava Schistosomus reflexus.


o que é isso doug?

Esse nome difícil, que parece até nome de parasita, é uma malformação bastante rara e incompatível com a vida extra-uterina do feto. Já foi observada em diversas espécies de mamíferos e a principal apresentação é o não fechamento das cavidades torácica e abdominal, sendo dessa forma, que as vísceras ficam expostas. Ainda é comum que aparecem alterações na coluna e membros, além de hipoplasia diafragmática, pulmonar e hepática.


porque isso acontece?

As malformações congênitas são difíceis de serem explicadas, pois vários podem ser os fatores desencadeantes. Já foram descritos fatores genéticos, anomalias cromossômicas e mutações, além de fatores ambientais, hormonais, radiação, produtos tóxicos, infecciosos, etc. Ou seja: é bastante difícil de explicar o porquê isso acontece.


como identificar?

O principal achado ultrassonográfico em um paciente com Schistosomus reflexus é a exposição das vísceras (torácicas e abdominais). Então em seu protocolo de exame gestacional, em algum momento você vai perceber a alteração fetal.

Neste caso em específico, percebi que havia algo diferente quando fui mensurar a frequência cardíaca do feto, pois era nítido que o tórax do feto acometido era mais pequeno e estreito que o tórax do feto saudável. Isso me fez dar mais atenção a este feto. Ao realizar o corte transversal do feto, tanto torácico quanto abdominal, foi notado que as vísceras não se encontravam nas cavidades torácica e abdominal.

o que eu vi

Era nítido que o parênquima hepático era grande e extenso para fora da cavidade torácica, além dos segmentos intestinais. O coração também parecia parcialmente exposto e não era possível identificar o parênquima pulmonar. Observe a varredura transversal do feto, de caudal para cranial, no vídeo abaixo.

Ainda era possível observar uma importante escoliose na coluna cervical e torácica do feto, então associando todos estes achados, conclui que se tratava de um Schistosomus reflexus.


quais os diferenciais?

Poucos são os diferenciais para esta alteração. A exposição de vísceras abdominais também é observada em casos de onfalocele e gastrosquise, mas nestas patologias, não costumam ser observadas alterações em coluna (como as que observei no meu exame.


e quando nasceu?

Quando o feto nasceu, foi possível confirmar todos os achados observados no ultrassom gestacional. Além disso, também observamos a malformação de um dos membros torácicos (que também é relatado na literatura). Claro que fizemos uma radiografia para deixar tudo da forma mais ilustrativa para que vocês pudessem entender.

Essa linda radiografia foi realizada pela minha amiga Letícia Pina

importância do diagnóstico

Não vejo essa malformação por si só uma potencial geradora de distocia mas, como comentei, uma de suas causas pode ser hormonal e alterações hormonais podem sim gerar distocia ou até mesmo impedir o trabalho de parto. Outro fator importante é que fetos com uma malformação tão grave costumam ser ingeridos pelas mães imediatamente após o parto. Esse comportamento é instintivo e bastante observado em diversas espécies e, no caso da paciente que atendi (uma Chihuahua) isso poderia ser um problema, pois qual a chance de uma Chiahuahua ter obstrução após ingerir um feto inteiro??

Por isso, indico o acompanhamento dessa gestante, seja para o momento de indicação de cesárea ou para o parto assistido.

Mesmo não tendo pego um caso como este anteriormente, já sabia do que se tratava por ter estudado essa patologia. Essa malformação e as demais que podem ser observadas no exame ultrassonográfico gestacional são ensinadas no nosso curso de ultrassonografia do NAUS. Veja na página de eventos e agenda quando é o próximo curso para que você nunca tenha dúvidas neste e em demais diagnósticos gestacionais!


sobre este caso em específico

Neste paciente, tivemos outros achados importantes, do qual ainda descreverei em algum relato de caso quando publicado, compartilho aqui com vocês. De antemão adianto que a paciente tinha um outro feto (com discreta hidrocefalia) e os fetos entraram em sofrimento fetal aos 53 dias de gestação. Todos os achados que observamos na ultrassonografia se confirmaram quando e tivemos outros diagnósticos que eu suspeitava mas não conseguia confirmar apenas pelas imagens. Se você quer conferir mais imagens deste caso e do feto, que veio a óbito ao nascimento, confira na galeria.









1 Comment


Essa semana peguei uma gastrosquise, pena que o parto foi no domingo e não pude acompanhar o bebê mal-formado. Parabéns pelo post Doug, tá muito completo!

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